terça-feira, 5 de julho de 2011

(4°) Vídeo-aula 9 - Educação Comunitária e Direitos Humanos



4°Módulo – Vídeo-aula 9: Educação Comunitária e Direitos Humanos

“Aprender na comunidade, com ela e para ela, significa usar a história de sua própria região, exteriorizando a cultura do silêncio. Significa aprender a engajar-se na sua própria região, tornando –se consciente da situação sócio-política e lutando para que as sociedades fechadas sejam transformadas em sociedades abertas...é uma questão de urgência que as escolas se tornem menos fechadas, menos elitistas, menos autoritárias, menos distanciadas da população em geral. Isso é para a educação comunitária uma questão de fundamental importância”.
                                                                                                  Paulo Freire
A Prof°Ana Maria Klein utilizou essa citação de Paulo Freire para apresentar como ele se referia à Educação Comunitária e comentou que ele é um dos autores que trata da questão da relação entre escola e comunidade.
Seu histórico:
A Educação Comunitária surge não dentro de um contexto escolar. Inicialmente associada à educação não formal e caracterizada por processos educativos coletivos.
A partir dos anos 1980, intensificando-se na década de 1990. Caracterizada pela democratização do espaço e das relações da participação de todos os envolvidos, da melhoria da qualidade da educação.
Objetivo da Educação Comunitária:
Formar, desenvolver um “sujeito coletivo”, isto é, sujeitos que se compreendam em meio à coletividade, que se tornem co-responsáveis pelas ações, relações, conflitos e decisões que ocorrem na comunidade.
Que os alunos se comprometam com a coletividade, com o lugar onde eles moram, e com os processos democráticos, ou seja, que eles olhem para o contexto onde se inserem numa perspectiva crítica e com uma perspectiva, também, de mudança e transformação.
Os conteúdos tem que ter relação com aquilo que os estudantes vivenciam e também com o lugar onde eles se inserem. Essa comunidade se torna objetivo da aprendizagem, e é conteúdo também. Eu aprendo para ser sujeito coletivo que vou interagir dentro dessa comunidade e, também, aprendo com os temas que emergem dessa comunidade.
E a perspectiva é da cidadania: eu aprendo a ser cidadão – problemas de uma determinada comunidade passam a ser discutidos e a ser objetos de reflexão dentro da escola. Para isso é preciso uma articulação entre os temas do entorno e os conteúdos disciplinares.
É uma nova perspectiva de educação onde aquilo que se aprende na escola se articula com a vida cotidiana dos estudantes numa perspectiva de formação para a cidadania, ou seja, de atuar ativamente nessa comunidade a qual eu pertenço.
A Educação Comunitária abriga dentro de si diferentes contextos educativos: família, cidade, sociedade, a escola, portanto considera e privilegia outros espaços de relação onde os estudantes também aprendem.
Educação Comunitária e contextos educativos:
-Currículo: traz as demandas e os interesses da comunidade que passam a fazer parte da escola e do trabalho pedagógico. Os temas vivenciados passam a ser discutidos,  a ser problematizados à luz dos conhecimentos das disciplinas, através de um tema, de um projeto, e o aluno passa a ter uma posição crítica frente aquilo que acontece no lugar onde ele mora.
-Cidades Educadoras: conceito que surgiu no início da década de 90, na Espanha. Sua ideia central é que a escola sozinha não tem condições de construir todos os conhecimentos e informações necessários ao mundo contemporâneo, com isso a educação também deve ser competência da cidade. A partir disso foi feita uma carta das cidades educadoras onde se reconhece que a educação não é uma função restrita à escola, todos da sociedade educam as pessoas que vivem nessa sociedade, portanto a cidade é um contexto educativo. Para além dos muros da escola há outros espaços educativos que são de responsabilidade de todos e que também devem fazer parte dessa rede, desse contexto educativo no qual os alunos se inserem. Portanto a gente abre as portas da escola para espaços que estão fora dos muros escolares e para espaços que muitas vezes estão ali presentes e não percebemos seu potencial.
E como podemos levar tudo isso para dentro da escola ?
Educação Comunitária e as relações entre aprendizagem e cidade
Trilla (1993) autor espanhol destaca três dimensões possíveis para a relação educação-cidade:
Aprender na cidade: lócus de educação, composto por instituições especificamente educativas (museus), instituições cidadãs não especificamente educativas (ONGs), espaços onde se podem realizar encontros e vivências (parques, praças).
Aprender da cidade: agente informal de educação de caráter ambivalente e não seletivo. O curriculum da cidade é contraditório em seus modelos de relações sociais.
Aprender a cidade: a cidade é tomada como conhecimento em si, trata-se de aprender a utilizar a cidade e a participar de sua construção. Conhecer, saber dos seus potenciais e saber também que cada indivíduo é um cidadão com papel ativo que pode transformar aquela realidade. É uma relação de troca, não é só esperar o que a cidade pode me dar, mas o que eu faço também para mudar essa cidade. Estamos falando de uma perspectiva de educação para a cidadania ativa.
Como eu posso trabalhar essa questão da cidade dentro da escola?
1-Uma das possibilidades é o mapeamento: mapear o entorno é uma ação ampla que visa olhar para as potencialidades da comunidade na qual a escola se insere. O objetivo do mapeamento é levantar onde/ o quê/ quem/ por quê, identificando parceiros na tarefa educativa.
2-Um caminho complementar que visa a articulação entre os conteúdos disciplinares e os temas presentes na comunidade são as trilhas, que nascem de um contexto pedagógico, e é um olhar orientado por um tema específico onde tem um duplo caráter:
1°Caráter: intencionalidade e objetividade – meu olhar está orientado para aquele determinado tema que escolhi.
2°Caráter: “caleidoscópio” – percepção das pessoas acerca da comunidade: desafios, potenciais (humanos, equipamentos, locais) e como elas se implicam. É o olhar de diferentes pessoas sobre o mesmo tema.
E onde é que entram os Direitos Humanos?
Direitos Humanos (DH) são comuns a todo(a)s sem distinção de etnia, nacionalidade, sexo, classe social, nível de instrução, religião, opinião política, orientação sexual, ou de qualquer tipo de julgamento moral. Decorrem do reconhecimento da dignidade intrínseca de todo ser humano.
Ou seja, somos humanos, logo temos direitos. Nenhuma diferença pode fazer com que esses direitos não sejam cumpridos.
DH e democracia – liberdade, igualdade e solidariedade: uma democracia só existe se você tiver uma base que também é a base do DH. Logo uma democracia só existe se os DH forem respeitados, se todos tiverem seus direitos respeitados; e DH só são possíveis num país democrático. Portanto democracia e DH é indissociável, uma só existe junto com o outro. Por isso quando se pensa em formação para a cidadania, que é uma das funções da escola, DH tem que estar presente.
Na escola DH se traduzem em conhecimentos, valores e ações que são necessárias à formação dos cidadãos em sociedades democráticas e ao desenvolvimento integral do ser humano.
Aonde é que isso se articula com a Educação Comunitária ?  Os temas que compõe a trilha, por exemplo, que vai dar origem aos Projetos transversais, eles nascem dos Direitos Humanos. Exemplos de alguns temas:
Temas dos projetos derivam da discussão sobre DH
-Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH (ONU -1948)
-Direitos sociais, econômicos e culturais
-Direitos de crianças e adolescentes
-Discriminação racial
-Discriminação contra a mulher
-Direitos relacionados à Educação
-Gênero e orientação sexual na educação
E a Prof° Ana Maria finaliza dizendo: “esses são só alguns exemplos e aqui eu destaco o ECA, ele tem que estar na escola, as crianças e adolescentes tem que conhecer os seus direitos, e fazer com que esses direitos sejam respeitados é a etapa seguinte.
A Educação Comunitária pode fazer valer os DH através de temáticas que vão abordar esses direitos à luz das disciplinas curriculares”.

                                Márcia Maria dos Santos Solha
                                            Julho/2011

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