quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

(2°) Vídeo-aula 28 - Depressão na infância e adolescência

                                               


2°Módulo – Vídeo-aula 28: Depressão na infância e adolescência

Começo esse trabalho com as palavras sábias de Rainer Maria Rilke, em seu livro Cartas a um jovem poeta”.

“ Também não se deve assustar, caro Sr.Kappus, se uma tristeza se levantar na sua frente, tão grande como nunca viu; se uma inquietação lhe passar pelas mãos e por todas as ações como uma luz ou a sombra de uma nuvem. Deve pensar então que algo está acontecendo em si, que a vida não o esqueceu, que o segura em sua mão e não o deixará cair.
Por que deseja excluir de sua vida toda e qualquer inquietação, dor e melancolia, quando não sabe como tais circunstâncias trabalham no seu aperfeiçoamento ? Para que perseguir-se a si mesmo com a pergunta: de onde pode vir tudo aquilo e para onde vai ? Não sabia estar em transição ? Deseja algo melhor do que transformar-se ? Se algum ato seu for doentio, lembre-se de que a doença é o meio de que o organismo se serve para se libertar de um corpo estranho; é só ajudá-lo a ficar doente, ter toda a sua doença e deixar a esta o seu curso. Em si, caro Sr.Kappus, está acontecendo tanta coisa. Deve ter a paciência de um doente e a confiança de um convalescente, pois talvez seja um e outro. Mais ainda: o senhor é também o médico que se deve vigiar a si mesmo.
Em muitas doenças, porém, há dias em que o médico nada pode fazer senão esperar. É o que o senhor deve fazer agora, porquanto é seu próprio médico.
 Não se observe demais. Não tire conclusões demasiadamente apressadas do que lhe acontece: deixe as coisas acontecerem.
...O “grandioso” não foi aquilo que o senhor pensa ter cumprido.
...Lembra-se como esta vida, desde a infância, aspirava aos “grandes”. Vejo-a abandonar agora o grande para chegar aos maiores. Eis por que não cessa de ser difícil, mas tão pouco cessará de crescer .
 Se lhe puder dizer alguma coisa mais, é isto: não pense que aquele que o procura consolar leva uma vida descansada no meio das palavras simples e discretas que às vezes fazem bem ao senhor. A vida dele comporta muito sacrifício e muita tristeza e fica-lhes muito atrás. Mas se assim não fosse, ele nunca podia ter encontrado aquelas palavras.”

A característica da sociedade atual é o imediatismo e o consumismo:  o desejo da imediata gratificação, a busca pelo alívio rápido, o ter sobrepondo o ser,  o descarte do que se tem e a atenção sobre algo novo que saiu...numa busca desenfreada ., sem fim...
Daí tanta doença, tanta gente se anestesiando com as drogas ilícitas e com as drogas lícitas.
O Brasil é um dos campeões em venda de remédios psicotrópicos.
E as pessoas estão perdendo a oportunidade de irem mais fundo em si mesmas, de se conhecerem no processo da vida e, com isso, se sentirem protagonistas, autores e atores da sua história de vida pessoal e da história do seu tempo.
Dessa forma, a busca fica sendo pelo corpo, moda e demais ditames da sociedade, onde se busca corresponder aos apelos de fora para dentro, esquecendo, emudecendo os apelos, os clamores de dentro, e a necessidade de expressão desse ser traduzidas em tudo que se faz, em como se vive.
Quando essa tristeza à que Rilke se referiu se achega à mim, eu digo à mim mesma que estou com dores de parto, que algo “novo” quer nascer em mim, de mim... Daí, mesmo com certo incômodo, como que tripidando, eu busco ficar serena para poder ouvir, dar vez e voz ao meu ser. E se o clamor é tão forte, e daí a tristeza, a dor, é porque é algo importante que devo sentir, pensar e fazer e de forma integrada.
Fico imaginando a quantidade de pessoas que ao sentirem isso que Rilke descreveu tão bem, ou mesmo outras que estão vivendo momentos de lutos, traições, decepções e que simplesmente se anestesiam e não se possibilitam trabalhar internamente, digerindo, elaborando seus sentimentos, emoções... E se utilizam da química que meramente lida com  o sintoma e não trabalha as causas...

A partir dessas reflexões mencionarei as definições trazidas nessa vídeo-aula.
Porém além das observações já feitas, quero levantar a questão de que uma criança ou adolescente com esses sintomas pode, ao invés de estar doente, ser o elemento da família que mais tem consciência dos problemas ali existentes e que apresenta os sintomas por não conseguir lidar com isso, ou, também,  pode haver questões anteriores em sua vida que não ficaram bem resolvidas e frente a uma nova etapa fica  ainda mais difícil para ela superar.
Portanto o medicamento se faz necessário somente em casos muito graves, onde só a psicoterapia e outras intervenções (atividades artísticas, esportivas, participação em projetos etc...) se mostraram insuficientes.
Há que se tomar muito cuidado com o “rótulo”/diagnóstico (DEPRESSÃO) que mais pode atrapalhar do que efetivamente ajudar.

As definições apresentadas nessa vídeo-aula:
Depressão é um transtorno de humor ou afeto: sentimento de tristeza profunda, associado com sintomas fisiológicos e cognitivos na pessoa. E esse conjunto de sintomas devem estar presentes mais de um mês para que haja o diagnóstico.
Segue-se critérios diagnósticos do CID 10 e DMS IV.

As causas que compõe a etiologia da depressão (multifatorial):
-Biológicas: genética, estrutura e química do cérebro
-Psicológicas: estresse, traumas, desamparo, forma de perceber e de lidar com o mundo.
-Sócio-culturais: papéis, expectativas, suporte social

As crianças e os adolescentes são tão suscetíveis quanto os adultos e isso interfere na vida diária, nas relações sociais e acadêmicas. E  pode haver recorrência na idade adulta.

Prevalência:
Crianças pré-escolares: 1%
Crianças em idade escolar: 2 a 4%
Adolescentes: 5 a 8%

Distribuição entre os sexos:
-similar na infância
- adolescência e adultos : prevalência do sexo feminino

Fatores de risco para o desenvolvimento da depressão quando falamos de crianças e de adolescentes:
-Histórico familiar de depressão
-Sexo feminino
-Episódios anteriores de depressão
-Acontecimentos estressantes
-Dependência de droga
-Violência doméstica
-Elevada exigência acadêmica

Tratamentos:
Medicamentoso
Psicoterapia
Suporte familiar
Psicoeducação: rede de apoio social (escola, trabalho, amigos)
Fortalecer as condições que garantam a busca por ajuda em todos os contextos (família, trabalho, escola, comunidade).
Inserir essa criança e adolescente numa rede social, com todos os contextos em que ela vive.

E a Prof° Paula enfatiza:
“E que haja uma interlocução do professor, com os pais, com a criança, com o psicólogo, com o psiquiatra para que a gente consiga ter um contexto inteiro para favorecer o desenvolvimento integral dessa criança. É só dessa maneira que a gente consegue ter uma diminuição desses sintomas depressivos, dessa depressão, para que ela cresça com qualidade de vida, que é o que a gente busca.

E a Prof° Paula  diz: “A gente sempre vai ter problemas. O que a gente tem que mudar é a maneira de lidar com eles”.

E eu finalizo utilizando uma frase de Sartre:
“Não importa o que fazem da gente, mas o que fazemos com o que fazem da gente”.

                                  Márcia Maria dos Santos Solha
                                        Dezembro/2010
Vídeo sobre depressão na adolescência:

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