terça-feira, 30 de novembro de 2010

(2°) Vídeo-aula 11 - Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

2°Módulo – Vídeo-aula 11: Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)




"Que há um sol nascente avermelhando o céu escuro,
Chamando os homens pro seu tempo de viver.
E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem...
E que o passado abra os presentes pro futuro.
Que não dormiu e preparou:  o amanhecer"
                                                          Taiguara


Começo o trabalho sobre esse tema com uma citação de Violet Oaklander, presente em seu livro - “Descobrindo Crianças – a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes” :

“Há muita controvérsia em torno da causa e do tratamento do comportamento hiperativo. Todo mundo por certo concorda acerca da conduta manifesta de uma criança hiperativa.
Os médicos prescrevem prontamente medicamentos para acalmar a criança hiperativa. Ocasionalmente tenho visto crianças que, em virtude da sua ingestão diária de pílulas, são capazes de ficar sentadas o tempo suficiente para aprenderem a ler um pouco; ou foram tornadas tão dóceis que aparentam estar passando por uma reversão de personalidade. ...A criança assim tratada não adquire nenhuma força interior própria para poder lidar com seu mundo. Ela usa as pílulas como muleta, e às vezes como instrumento de manipulação: “Me dê as pílulas para eu poder ficar bonzinho”.
Também é assustador especular sobre os danos fisiológicos que podem resultar de tais drogas.
...Crianças que apresentam qualquer um dos vários sintomas hiperativos, ou todos eles, muitas vezes estão simplesmente evitando sentimentos dolorosos. Uma criança incapaz ou não-disposta a exprimir sentimentos contidos, certamente pode ter dificuldade em ficar sentada, prestar atenção, concentrar-se – e não ter nenhuma dificuldade motora ou percepcional com base neurológica.
...Jody, 5 anos, era um exemplo típico deste tipo de criança. Foi diagnosticado como hiperativo e estava tomando 10 miligramas de Ritalin por dia. Sua mãe relatou que embora já estivesse sob essa medicação por mais de um ano, sua hiperatividade não havia diminuído.
...Queria que Jody experienciasse o seu próprio poder. Uma vez sentindo-se livre para fazê-lo dentro dos limites seguros do meu consultório, começou a carregar esses sentimentos de poder para casa. Começou a manifestar muito mais diretamente para mim e para sua mãe algumas coisas que o estavam deixando zangado ou com medo. Sua mãe contou que finalmente ele estava ficando mais calmo e mais fácil de conviver.
...Pelo fato de se distraírem facilmente, e muitas vezes ficarem confusas pelos estímulos, essas crianças têm uma grande necessidade de experienciar uma volta ao senso de si próprias. Acredito que qualquer experiência tátil e cinestésica promove uma nova e mais forte consciência do eu e do corpo. Com um aumento de consciência de si mesmo, surge uma nova consciência dos sentimentos, pensamentos e idéias.
...Uma vez que tocar e fazer movimentos musculares parecem ser coisas úteis para aumentar o senso de eu da criança, e também possuem um efeito calmante, parece-me natural que a massagem possa beneficiar grandemente uma criança hiperativa. ...Desde então tenho sugerido aos pais que massageiem seus filhos. Existem muitos livros para leigos.
...Dou grande importância aos métodos de proporcionar à criança hiperativa meios de fixar em si mesma. À medida que seu senso de eu se torna mais aguçado, ela pode começar a exercer o controle interno que tantas vezes parece estar faltando.
...Finalmente quero enfatizar a profunda importância da escolha. Todas as crianças precisam experienciar a tomada de decisão; especialmente as crianças hiperativas precisam de oportunidade de exercitar sua vontade e julgamento de modo positivo. Fazer escolhas requer um senso de eu; é preciso sintonizar o próprio pensamento e sentimento para tomar uma decisão. Assumir a responsabilidade por uma escolha é uma experiência de aprendizagem. ...Escolhas aparentemente simples muitas vezes não são fáceis para esta criança fazer, mas creio ser essencial que lhe sejam dadas muitas oportunidades de tomada de decisão. Não consigo pensar em nada melhor para reforçar o eu da criança.”

Escolhi esse trecho do livro da psicoterapeuta Violet Oaklander, pois está alinhado ao que penso, acredito e que foi reforçado ao assistir a duas palestras  do 1°Seminário Internacional:  A Educação Medicalizada – Dislexia, TDAH e outros supostos transtornos.
Numa delas a Dra Maria Aparecida Afonso Moisés – médica da UNICAMP, denuncia a medicalização da Educação e fala:
“A medicalização é uma nova maneira de controle social. É um novo modo de vigiar e punir. Uniformizados, padronizados, submetidos, quimicamente asujeitados, são objetos.
Ou nós nos deixamos cooptar ou nos colocamos em defesa das crianças e da vida.
Medicalizar desconstrói direitos, não há direitos na natureza, ali se dá a lei do mais forte. Direitos, equidades são conquistas. Quando eu medicalizo eu naturalizo.
Doenças que não foram comprovadas cientificamente, o diagnóstico me torna doente e incapaz ?”
E enfatiza:
“Não há evidência que existe a doença (TDAH), não está cientificamente comprovado.
Isso é norma social, não é critério de doença. Não há embasamento científico. E as famílias são aprissionadas pelo diagnóstico.”

E a criança, rotulada.

Faz críticas muito pertinentes aos medicamentos prescritos às crianças e apresenta detalhadamente os perigos e os efeitos deletérios ao organismo e ao desenvolvimento.
E uma das questões levantadas foi:
Que sociedade é essa que quer a pessoa focada ?
A que custo esse foco de atenção ?
E faz citação a um texto : “Os vendedores de doença” de dois escritores americanos, Ray Moynihan e Alan Cassels, (se encontra no google) que falam como criar novas demandas na sociedade.
E a Dra Maria Aparecida brilhantemente encerra a sua fala dizendo que é disso que estamos falando (“vendedores de doenças) e também de controle social.
Isto é, cria-se novas demandas para incrementar o consumo de medicamentos e para “anestesiar” os que incomodam, para que as pessoas se “formatem” para se adequar e ser mantido o status quo.
E esse controle se dá de forma silenciosa, autorizada pela autoridade médica, escolar...
Como não se tem mais os hospitais psiquiátricos para afastar da sociedade os que  tem um comportamento que foge da “normalidade”, se consegue a "normalidade" pela química.
Porém, como já vimos na vídeo-aula sobre Substâncias Psicoativas; tanto as ilícitas, quanto as lícitas causam um grande dano para o organismo e até mesmo irreversíveis; o mesmo está se dando com essas crianças a que são prescritas ritalina e outros, conforme demonstrou a Dra Maria Aparecida.
Que sociedade é essa que está se apoiando na “felicidade química”, na “calma química”, na “atenção química”,  etc...
Só pode ser em nome do consumo de medicamentos e do controle social. E que para isso diagnostica, rotula, segrega...
Como educadores, de que lado nos posicionamos ?

Coloquei o link do CRP (Conselho Regional de Psicologia), que juntamente com a UNIP promoveu o Seminário para que, caso haja interesse, se possa solicitar o acesso às palestras:
http://www.crpsp.org.br/portal/midia/fiquedeolho_ver.aspx?id=292

Deixei, também, o endereço do blog da Carmem Fidalgo, psicopedagoga.
Ela também participou do Seminário,  postou o resumo de algumas palestras e,  gentilmente, compartilhou informações.
carmemfidalgo.blogspot.com

                                          Márcia Maria dos Santos Solha
                                                        Dezembro/2010

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