terça-feira, 30 de novembro de 2010

(2°) Vídeo-aula 18 - Violência e Educação


2°Módulo - Vídeo-aula 18: Violência e Educação
Qual foi a minha grata surpresa ao ver nesta vídeo-aula a Flávia Schilling !
Passaram-se 30 anos, quando pude “conhece-la” através do seu livro “Querida Liberdade” em julho de 1980 na reunião da SBPC no Rio de Janeiro,o qual adquiri. Após le-lo, sempre tive o desejo de ter notícias da autora, saber o que havia se passado após a sua  volta ao Brasil, mas não consegui.
E lá estava ela, na vídeo-aula, falando sobre violência com tamanha ternura, leveza, sabedoria, humildade, demonstrando que sabe com profundidade do que está falando,  principalmente porque sentiu na própria “pele”.
E mesmo não estando clara, excepcionalmente, nesta vídeo-aula, a citação de sua titulação,  estava  inteira, plena, absoluta, mais que doutora no assunto.
Com tudo isso me senti em sala de aula, tamanha a acolhida; naquelas aulas em que não vemos o tempo passar.Portanto descobri que Flávia se tornou uma mestre e com tanto por ensinar !
 Fui então correndo pegar o seu livro, o folheei e reli citações que eu havia grifado e me fez muito bem retomar aquelas reflexões. E destaco para mencionar, um trecho da carta ao povo brasileiro:
“Penso que a humildade é uma atitude frente à vida. Tem como base o respeito. Respeito pela vida e pela morte, respeito pela grandeza e insignificância do homem, respeito pela diversidade humana e a unidade humana essencial: todos somos e temos o direito de ser pessoas, pessoas livres, pessoas pensantes, pessoas totais.”
Querida Flávia, declaro aqui minha profunda admiração pela sua história, pela pessoa que  você é, e pela mestre que você se tornou.
Agora te vendo, pela vídeo-aula, pude ver mesmo após 30 anos, aquela mesma jovem sonhadora, idealista, terna, comprometida com a história do seu tempo..., portanto coerente com a sua visão de homem e mundo . E adicionado à isso vi  uma grande mestre, compartilhando generosamente o seu saber ! Aliás, o que você declarou na citação que destaquei do seu livro, me parece que você tem vivido, e, também, como mestre tem levado tantos outros a viver !
Que alegria e honra ser sua aluna !

A Prof°Flávia Schilling parte de duas questões fundamentais para nos introduzir no tema.
A primeira: “não é fácil falar sobre violência, o tema nos emudece, quebra os discursos.” E para isso traz a citação do livro “Ensaio da cegueira” de José Saramago: “Se puderes olhar, vê. Se puderes ver, repara”. Sendo que a palavra repara tem como significados: olhar atentamente, tentar resolver, sarar, curar, arranjar uma determinada situação.
Portanto é possível e necessário colocar em palavras, e se estabelecer um diagnóstico da situação.

A segunda: “A violência não é uma fatalidade, não tomou conta do mundo; nós podemos agir”.
Isso indica possíveis formas de ação, isto é, o que a escola pode fazer em relação a situações de violência e isso implica em identificar o que se pode fazer, o que lhe compete  e com quais parcerias, e o que não lhe compete fazer.

Portanto, para as duas questões, isto é, tanto para o diagnóstico (penetrar na queixa e ir além dela, buscando descobrir o que acontece naquele ambiente: quando, quem, com quem, contra quem e o que) quanto para a intervenção/conexões (o que fazer e com quais parcerias) é necessário afinar o olhar e exercitar continuamente: ver, olhar e reparar .

Ainda quanto ao diagnóstico, a Prof°Flávia nos diz: “temos que levar em conta que há múltiplas formas de violência na escola. E para qualificar essas queixas e identificar quais são as violências, o exercício de olhar, ver e reparar nos ajudará, nos instrumentalizará a perceber: o que, com quem, contra quem, onde, quando e como , nos possibilitando alguma forma de atuação.

E levanta alguns tipos de violência:
1°-Quando está localizada num território violento, quer seja pela criminalidade, tráfico de drogas, gangues.
2°-Violência que acontece na família e que penetra silenciosamente na escola através do comportamento agressivo ou apático da criança.
3°-E um tipo que é próprio da instituição escolar, por exemplo, passar de ano sem aprender, e num contexto onde ninguém consegue ocupar o seu lugar.

Nos três casos a Prof°Flávia indica o diagnóstico (ver, olhar e reparar) e a intervenção/conexões (diálogo e parcerias, também utilizando: o ver, olhar e reparar). Sendo que no terceiro caso chama à responsabilidade os adultos, portanto professores e demais profissionais da escola, para formar um coletivo que sustentem decisões e projetos que possam trazer um cotidiano rico de conhecimento e interesse, estabelecendo conexões com os pais, vizinhança, segurança pública, saúde, conselho tutelar e secretaria da educação.

E conclui  a aula nos dizendo: “É possível agir e minha proposta é pensar no que nos acontece, detectar: onde, quando, com quem, contra quem, o que; utilizando o olhar  para talvez, ver e quem sabe, reparar. É um desafio possível: a produção de diagnóstico orientando ações que impliquem em identificar o que fará, e com quem fará, no estabelecimento de novas conexões.”

“Se puderes olhar, vê.
 Se puderes ver, repara”
Essa frase busca despertar em cada um de nós o sujeito que de fato somos, autor e ator da nossa história pessoal e da história do nosso tempo, e portanto agentes de transformação da sociedade.
Ela convida-nos a sair da posição de vítimas, impotentes frente aos problemas e, nesse caso, a violência, para nos posicionarmos: identificando/diagnosticando e fazendo parcerias/conexões.
Ver, olhar e reparar (e reparar que quer dizer: olhar atentamente; tentar resolver; sarar; curar; arranjar uma determinada situação) traduz muito bem o papel do educador, que ao agir assim, além de fazer a diferença no mundo; pelo seu exemplo, prepara outros, os seus alunos, a agirem com autonomia em prol do bem comum.
Querida Prof° Flávia é isso que, certamente, você tem feito.

                         
                     Márcia Maria dos Santos Solha
                                novembro/2010
              

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