terça-feira, 30 de novembro de 2010

(2°) Vídeo-aula 12 - Retardo mental e Autismo

2°Módulo – Vídeo-aula 12: Retardo Mental e Autismo






No livro: “O desenvolvimento social da criança e do adolescente” de Berthe Reymond-Rivier,  encontra-se essa citação que escolhi para iniciar esse trabalho:

“O homem é um ser social. Por mais longe que se retroceda no tempo, vemo-lo sempre procurar a companhia dos seus semelhantes e viver em grupo.
...Casos bem reais, cientificamente estudados, dos quais um dos mais célebres é o do Kasper Hauser de Nuremberg, mostram que isolado e privado da presença do outro, o ser não adquire nenhum dos traços que caracterizam a natureza humana, e se torna uma espécie de monstro. Nas regiões da Índia onde os casos de crianças-lobos foram relativamente numerosos, descobriram-se em 1920 duas meninas – Amala e Kamala -- que viviam numa família de lobos. A primeira, a mais nova, morreu um ano depois; a segunda, Kamala, que deveria ter uns 8 anos, viveu até fins de 1929. Segundo a descrição do Reverendo Singh que as recolheu, elas nada tinham de humano, e o seu comportamento era exatamente semelhante ao dos pequenos lobos, seus irmãos.
...O bispo Pakenham Walsh, que viu Kamala seis anos depois de ter sido encontrada, a criança não tomava qualquer iniciativa de contato, nunca utilizava espontaneamente as palavras que aprendera e, especialmente, mergulhava numa atitude de total indiferença, mal as pessoas deixavam de a solicitar:
“ela sorria docemente quando lhe falavam, mas logo depois, o seu rosto retomava uma expressão ininteligente; quando a deixavam sozinha, retirava-se para o canto mais escuro da sala, acocorava-se e permanecia absolutamente indiferente e inexpressiva. A criança experimentava afeição pela Senhora Singh e obedecia docilmente aos seus conselhos durante todo o tempo em que a vi. Não se interessava por nada, de nada tinha medo, desinteressava-se completamente das outras crianças e dos seus jogos. Caminhava em posição ereta, mas era incapaz de correr”.
Bruno Bettelheim, donde retiramos esta citação (do livro “A Fortaleza Vazia”), declarou-se contra o que ele chama o “mito das crianças-lobos”. Não contesta a pertinência da descrição de Singh; pelo contrário, as analogias, para não dizer a identidade das reações e dos comportamentos de Amala e de Kamala com os das crianças autistas com as quais lidava, convenceram-no de que as duas meninas eram autênticos casos de autismo infantil. Por outras palavras, o que este autor põe em dúvida é a interpretação do seu comportamento em função de uma pretensa origem selvagem. São, diz ele, crianças abandonadas pelos pais e que em virtude dessa carência afetiva total, sucumbiram ao autismo, quaisquer que tenham sido, aliás, as condições que asseguraram a sua sobrevivência; o que significa que o comportamento “animal” de Amala e de  Kamala é devido não ao fato de elas terem vivido entre lobos (o que Bettelheim põe em dúvida sem formalmente o contestar), mas de terem sido privadas dos pais. Na realidade, justa ou falsa, a refutação de Bettelheim em nada enfraquece, antes pelo contrário, a importância crucial do meio humano.”

No rodapé da página onde consta esse último parágrafo traz a seguinte informação:
“A etiologia do autismo está ainda em discussão, mas parece que na origem se encontra sempre uma rejeição total (por vezes desde a nascença) da criança pela mãe, “condição necessária mas não suficiente”, escreve Bettelheim, para a eclosão da perturbação. Para um conhecimento mais aprofundado, consulte a obra já citada do autor, “A Fortaleza Vazia”, consagrada inteiramente ao autismo.”

Violet Oaklander em seu livro : “Descobrindo crianças – a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes” comenta:
“Parece que as linhas-mestras que uso com crianças mais normais também se aplicam a crianças autistas. Comece onde a criança está. Fique com a criança. Receba pistas da criança. Esteja alerta para o processo dela e para os interesses dela (e não os seus). Traga-a sempre de novo para sua consciência de si mesma, oferecendo muitas atividades sensoriais tais como brincar com água, pintar com os dedos, brincar com areia, e trabalhar com argila. Cathy Saliba descreve que leva as crianças para a praia, onde podem sentir o cheiro do mar, ver, sentir, rolar na água e na areia, sentir o sol e o ar livre. O trabalho corporal é essencial – usar colchões, aplicar massagens, “lutar” com as crianças e encorajá-las a lutar entre si, usar uma rede de acrobata e outros equipamentos de playground. Estas crianças precisam de muitas oportunidades de experienciar o uso controlado de seus corpos.
...Cathy Saliba descobriu, após trabalhar algum tempo com tais crianças, que elas tornavam suas necessidades conhecidas prontamente, mas o faziam de maneira que passavam facilmente despercebidas:...Até aquele primeiro dia em que Sean demonstrou um interesse pelo espelho, eu planejava o que cada aluno ia fazer durante as minhas primeiras horas de contato com ele. ...Eu acreditava que crianças autistas precisavam de muita estrutura e, em essência, exigia delas que executassem o que, quando, como, onde e em que medida, aquilo que eu julgava que necessitavam todo dia. Quando permiti a Sean ficar aquele tempo diante do espelho, estava recebendo uma pista dele, que dizia: “Êi, eu quero estudar o meu reflexo, e eu gosto de fazer isso”. Daí por diante, fui capaz de me abrir o suficiente para ver que Sean podia tornar conhecidos outros desejos e necessidades . Na verdade, bastava eu me permitir ver e responder às pisatas, em vez de sempre impor as minhas próprias exigências.
E Violet complementa:
“E assim Cathy Saliba começou a experimentar “ficar” com as crianças, e descobriu, através deste método, que muita aprendizagem tinha lugar.
...Merilyn Malek experimentou uma abordagem semelhante à de Saliba. Ela também descobriu que ficar com o processo da criança em vez de impor atividades prescritas trazia recompensas muito mais gratificantes.
E Violet conclui:
“O aspecto mais importante de tudo isso é familiarizar a criança consigo mesma, um passo necessário antes que possa ser estabelecido um contato maior com seus colegas, pais, professores e ambiente. Tanto Saliba quanto Malek descobriram que quanto mais as crianças entravam em contato consigo mesmas – seus sentidos, seus corpos -, quanto mais ocorria a autodescoberta, mais calmas estas crianças ficavam. Os movimentos frenéticos desapareciam e a auto-estimulação desnorteada se reduzia. (Saliba fala de visitantes que entraram na classe e alegaram que as crianças não eram realmente autistas, pois o “comportamento autista” tinha diminuído acentuadamente.) Essas crianças  estavam começando a aprender; estavam se relacionando mutuamente a e com seus professores muito mais do que antes.”

Essas citações de dois autores, apesar de falarem mais diretamente de crianças autistas, cabem também ao outro tema a que se refere esse trabalho, que é o retardo mental.
Independente das limitações que tenhamos, o contato com o meio; a acolhida, a dedicação e o amor  dos pais ou cuidadores; os estímulos, incentivos que recebemos na família e depois na escola, de pessoas que acreditam em nosso potencial (em qualquer nível que seja) e permitam que nos expressamos, são fundamentais para o nosso desenvolvimento e a nossa saúde (física, mental e social).

E Violet Oaklander conclui em seu livro: “Quando penso na minha relação com crianças durante toda a minha vida – lembrando-me de como é ser criança, trabalhar em centros de recreação, ser estagiária como professora, e depois professora, trabalhar com crianças emocionalmente perturbadas (aquelas que são abertamente reconhecidas e rotuladas como portadoras de problemas), e fazer terapia com crianças em atendimento particular, recordo-me de muitos, muitos incidentes, estórias que poderia contar, que até hoje me fazem rir e chorar.
...Percebo agora que aprendi a trabalhar com crianças com as próprias crianças, inclusive comigo mesma quando criança !
...As crianças são os nossos melhores mestres. Elas já sabem como crescer, como se desenvolver, como aprender, como expandir-se e descobrir, como sentir, rir, chorar, enfurecer-se, o que está certo para elas e o que não está certo para elas, o que necessitam. Elas já sabem como amar e ser alegres, como viver plenamente a vida, como trabalhar e ser fortes e cheias de energia.
Todas elas (bem como as crianças dentro de nós) precisam de espaço para fazê-lo.”

A Prof°Paula Fernandes nessa vídeo-aula trouxe as seguintes definições:

Retardo mental:
Pessoas com habilidade intelectual abaixo da média.
Início do déficit antes dos 18 anos.
E tem como conseqüências: problemas no funcionamento diário, na comunicação, na interação social, nas habilidades motoras, nos cuidados pessoais e na vida acadêmica.
A prevalência é de 1 a 2% da população geral.
E há três tipos: leve, moderado e grave.

O que fazer:
-Identificação precoce
-Tratamento
-Treino de habilidades sociais, estímulos favoráveis
-Informação e treinamento de pais, familiares e professores
E na escola: máxima estimulação possível

Autismo / Traços autistas:
Transtorno invasivo do desenvolvimento trazendo prejuízos na interação social, atraso na aquisição da linguagem e comportamentos esteriotipados e repetitivos.
Incidência: aproximadamente de 2 a 5 casos por 10 mil crianças.
Mais comum em meninos.
Amplo espectro, que vai desde traços apenas, até o autismo mais grave.

Características:
-Identificado com dois anos e meio, não fala, resiste aos cuidados paternos e não interage.
-Bebês evitam contato visual, sem interesse na voz humana, indiferentes ao afeto.
-Crianças não seguem os pais pela casa, não tem interesse em brincar com outras crianças.
-Interesse por brincadeiras esteriotipadas: movimento da roda do carrinho, cheirar e lamber objetos, bater palmas e levar o corpo para frente e para trás.
-Fascinação por luzes, sons e movimentos.
-Incomoda-se com mudanças na sua rotina diária.
-Inteligência e linguagem comprometidas.

O que fazer na escola:
-Tratamento individualizado
-Intervenções conjuntas: educação especial, aconselhamento de pais, terapia comportamental, treino das habilidades sociais, medicações para melhorar a qualidade de vida e a adaptação da criança.
-45% das crianças com autismo tem uma comunicação verbal boa conseguida através de uma educação direcionada

E a Prof°Paula encerra nos lançando a reflexão:
Como você, professor, lida com essas crianças ?
Como a sua escola promove a inclusão social dessas crianças ?

Com as citações dos autores que utilizei, e com as informações da vídeo-aula, temos muito por fazer por essas crianças e adolescentes, ou em qualquer outra fase da vida.

                                        Márcia Maria dos Santos Solha
                                                Dezembro/2010

Vídeo: O que é o autismo ?
http://www.youtube.com/watch?v=eHbC5n9AVQQ

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