domingo, 26 de setembro de 2010

Vídeo-aula 1: As Revoluções Educacionais

Para compreender a história da escola contemporânea e a partir daí os problemas que temos e os desafios que essa realidade nos apresenta, o professor Ulisses nos falou das três Revoluções Educacionais que José M.Esteves esquematizou em seu livro: “A 3°Revolução Educacional”.

E para iniciar a minha reflexão sobre a vídeo-aula coloco duas perguntas fundamentais quando o assunto é Educação:


A primeira, o professor Ulisses utilizou:  A QUEM SE DESTINA A EDUCAÇÃO ? PARA QUEM ?

A segunda, eu acrescento para direcionar o meu comentário: PARA QUE SERVE A EDUCAÇÃO ?

E na medida em que temos clareza dessas definições, duas outras questões nos são também respondidas e de alguma forma determinadas:

Qual o papel do professor ? 

Qual o perfil desejado, esperado dos alunos ?

As três revoluções educacionais apresentadas respondem objetivamente essas quatro questões.

Na 1°Revolução Educacional, há 2.500 anos atrás, nas cortes dos faraós egípcios, a Escola se destinava à aristocracia: filhos dos nobres, de reis, da elite burguesa, portanto uma pequena parcela da população.

Esse modelo de Educação que durou 2.000 anos contava com um professor por aluno, portanto a relação era individualizada e a idéia era de preceptores que acompanhavam toda a vida escolar.


Na 2°Revolução Educacional  o marco é o século XVIII, quando os Estados Nacionais Europeus saem do período feudal e começam a se consolidar e, especialmente, quando o Rei Frederico Guilherme II da Prussia, em 1787, institui um Decreto dizendo que é responsabilidade do Estado a Educação Pública, se diferenciando da igreja. Porém tinham acesso, apenas,10% da população, não havendo espaço para as meninas e para as diferenças e expulsando quem não se enquadrasse.

Ocorre assim a legitimação da exclusão da maioria e também, na mão do professor o poder de exclusão. E como a base econômica era agrária considerava-se que para as atividades do campo, do comércio e até da cidade não precisava estudar.

O modelo de Escola que se cria na época, é difícil de acreditar, mas é o mesmo que temos até hoje: da  configuração arquitetônica (4 paredes; carteiras enfileiradas, professor à frente numa “posição superior”; lousa); do perfil dos alunos (homogeinização; exclusão); do papel do professor (aquela pessoa que pôde estudar e que transmitia o conhecimento uma vez que os livros eram muito caros e os alunos não tinham acesso).

No livro “Trabalho em debate”, os autores comentam: “A sociedade descobre mecanismos para manter a divisão, não conforme os talentos, mas sim de acordo com a classe social a que cada um pertence. Um dos instrumentos de manutenção desse estado de coisas é a educação, privilégio daqueles que são proprietários. Não por acaso, a palavra grega scholé, de onde deriva “escola”, significa inicialmente o “lugar do ócio”. Aí as crianças das classes abastadas se ocupam com jogos, ginástica, música e retórica, enquanto as demais, pertencentes aos segmentos pobres, seguem seu “destino” social, sem que se levem em conta as tendências individuais. Nesse caso ou são excluídas da escola, ou se encaminham para a aprendizagem de um ofício.

Assim se mantém a separação entre trabalho intelectual e trabalho manual, a escola funcionando como um ‘divisor de águas’ “.

Na 3°Revolução Educacional, que se inicia no século XX nas sociedades européias (1920 / 1930) e no Brasil há 20, 30 anos, o que está por detrás é a democratizacão e a universalização. A economia não é mais agrária, há um novo processo sociopolítico, econômico, surge  a sociedade do conhecimento que exige um nível mais elevado de educação, pessoas mais instruídas  para darem conta dos meios de produção que se sofisticaram. Daí que a sociedade legitima que todas crianças estejam em sala de aula  e isso provoca um reflexo na sala de aula: inclusão das diferenças (sociais, econômicas, psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero).

A escola passa a ser  para todas as pessoas. Só que o modelo que ainda dispomos e praticamos é do século XVIII, desde a  configuração arquitetônica, o papel do professor e até mesmo o perfil dos aluno: o que foge do “padrão” é visto como exceção, e  ainda não nos atentamos para o fato que cada um é único, portanto a diferença se faz presente mesmo quando temos a sensação de estarmos entre “iguais”.

Como reconfigurar a escola para 100% da população ?

Como conciliar a acessibilidade, com a equidade e a qualidade ?

O prof° Ulisses nos passa essas indagações e comenta que é preciso reinventar a escola para dar conta disso e que esse é um grande desafio que a nossa geração profissional tem que enfrentar.

Concordo plenamente e sinto-me privilegiada por fazer parte do grupo de educadores do século XXI, do Brasil, que vive um momento histórico tão importante, e nesse momento, especialmente, por participar desta Pós Graduação na USP, com temas e metodologias tão desafiadoras e inovadoras.

Porém ao lado do processo de democratização e universalização que vivemos no Brasil  e portanto da Educação para todos, que vai ao encontro da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que faz valer os direitos básicos do cidadão também presentes na nossa Constituição Federal de 1988, que promove a justiça social, que busca diminuir as desigualdades sociais, que faz cumprir para todos o que de fato é a Educação segundo Piaget : “A educação é, por conseguinte, não apenas uma formação , mas uma condição formadora necessária ao próprio desenvolvimento natural”; o que assistimos é um “divisor de águas”conforme está descrito acima no trecho do livro “Trabalho em debate”, só que hoje com os alunos regularmente matriculados que dependendo de sua classe social tem acesso a um tipo, a um nível de educação.

Não basta ter o acesso e a aparente “igualdade de oportunidades”, é necessário, fundamental, a qualidade para todos. O que vivemos ainda hoje depois de 2.500 anos é novamente o privilégio da excelência para os abastados que se manterão nos melhores postos de trabalho e com as melhores chances. Já para a grande maioria  ensino de péssima qualidade, que constrange educadores, alunos e pais.

Só que diferentemente de outras épocas a sociedade cobrará as competências, a formação do indivíduo, que não possuindo, será excluído e não encontrará um lugar no mercado de trabalho tão exigente por causa da globalização e facilitada pela tecnologia.

Então o que será dos nossos jovens  numa sociedade do conhecimento sem a formação, a informação básica para os desafios presentes ?

O que será do desenvolvimento do nosso país que necessita e conta com os talentos do seu povo e com o exercício de cidadania de cada um ?

Esse é um problema grave de cada um e de todos nós !

Falar de inclusão nos impõe essa reflexão e a busca urgente de meios, formas, caminhos para harmonizar, concretizar: acessibilidade, equidade e qualidade para cada um, para todos que são únicos, portanto diferentes !                                                   

Imagem do livro: "Cuidado Escola ! - edição sob a autoria da equipe componete do IDAC ( Instituto de Ação Cultural), Babete Harrper, Claudius Ceccon, Miguel Darcy de Oliveira e Rosiska Darcy de Oliveira, apresentado pelo grande escritor pernambucano Paulo Freire.


Márcia Maria dos Santos Solha
Setembro/2010

Um comentário:

  1. Gostaria muito que as escolas conseguissem se adaptar tão rapidamente como os equipamentos esportivos que se pretam a grandes eventos como copas do mundo, ou então como o próprio agronegócio que atualmente é uma das tecnologias de ponta mais eficazes não apenas pela aparelhagem mas também pelo alto domínio das técnicas agrícolas que dobram as safras. São vários os questionamentos acerca do ensino, acontece, como exemplefiquei que o foco desta nação não é, ainda, a educação, ponto final. Quando, um dia for, as escolas serão adequadas ( sem essas adaptações muitas vezes improvisadas ) e, seus mestres não somente ganharão bem, serão então capacitados de forma a desempenharem as suas funções com plena competência. Sou professora, todas as boas oportunidades de aprimoramento profissional que surgem, dentro mesmo das instituições públicas, eu as aproveito e temos bons resultados, mas o importante é avançarmos ainda mais nestas capacitações. Espero ter contribuido.

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