terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vídeo-aula 10: Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade na educação




Vídeo aula 10: Interdisciplinaridade e Transversalidade na educação

."As escolas tem sido os instrumentos de nossa maior negação, inconsciência, conformismo e conexões rompidas. Assim como a medicina alopática trata dos sintomas sem se preocupar com o sistema como um todo, as escolas dividem o conhecimento e a experiência em “assuntos”, incessantemente transformando o todo em partes, flores em pétalas, história em acontecimentos, sem jamais restaurar a continuidade”.
                                                                                     Marilyn Ferguson

"Inglês não é história, história não é ciência, ciência não é arte  e arte não é música, e arte e música são assuntos de menor importância e inglês, história e ciência são assuntos importantes, e uma matéria é algo que você “aprende”, e quando você aprende você fica “sabendo” e se você ficar “sabendo”, você está imunizado e não precisa aprender de novo ( Teoria da vacinação da Educação)."
“O Ensino como Ação Subversiva” Neil Postman e Charles Weingartner

Marilyn Ferguson cita em seu livro também, que Noel McInnis, um educador preocupado, descreveu o processo:
Durante 12 anos confinamos o corpo da criança a um território limitado, sua energia  a uma atividade limitada, seus sentidos a estímulos limitados, sua sociabilidade a um limitado número de colegas, sua mente a uma limitada experiência com relação ao mundo em sua volta.”. O que irá ela aprender?”, perguntou McInnis. “A não fazer aquilo que lhe interessa”.
E Ferguson também comenta:
...“Estamos começando a perceber, com ofuscante claridade, como muitos dos nossos métodos tem sido antinaturais e por que seus resultados eram tão fracos, sé é que havia resultados. A pesquisa sobre a função do cérebro e sobre a consciência demonstra que o ensino deve mudar se quisermos explorar nosso potencial. "   

Para Basarab Nicolescu, a interdisciplinaridade diz respeito a transferência de métodos de uma disciplina para outra.
Segundo Ivani Catarina Fazenda a interdisciplinaridade trata-se de um movimento e não de um modelo. A interdisciplinaridade é um movimento de congruências e confrontos não só de disciplinas mas sobretudo de pessoas. É um movimento de harmonização, desvelamento e conquistas de sonho.                
   
Ainda segundo Basarab Nicolescu,  transdisciplinaridade, como o prefixo “trans” indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, por meio das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina . Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento...Por outro lado, a transdisciplinaridade se interessa pela dinâmica gerada pela ação de vários níveis de realidade ao mesmo tempo.

O desafio da transdisciplinaridade é gerar uma civilização, em escala planetária, que por força do diálogo intercultural, se abra para a singularidade de cada um e para a inteireza do ser.”                                UNESCO

Falar sobre interdisciplinaridade e transdisciplinaridade significa ir além: observar o fenômeno a partir de uma compreensão contextual, sistêmica, complexa com sua inseparabilidade, inter-retroações do contexto em que está se estruturando, desestruturando e se realimentando. Significa um olhar que se faz singular e que faz singular um novo pensamento; construído e construindo um novo caminho.
  “Favorecendo a inclusão pelos caminhos do coração” Maria Dolores Fortes Alves

Ainda neste livro, Alves cita que segundo Edgar Morin, reconhecer a complexidade intrínseca aos fenômenos é reconhecer a tessitura da vida. A interdependência é um princípio que alimenta a vida neste planeta. Rejeitar a interdependência entre Ciência e Cultura (ação do humano no mundo) significa negar o sujeito, desvanecendo o sentido da vida. A transdisciplinaridade é a dissolução dos discursos homogeneizantes na ciência e na cultura.
E como Morin mesmo diz, “já não há mais tempo de fragmentar e excluir. É tempo de religar, de conceber o diferente como fios de uma imensa trama integradora, única, singular, complementar e completa desta comunidade planetária.

Nesta vídeo-aula pudemos conhecer um Projeto sobre o rio Ribeirão Anhumas que é parceria da UNICAMP com uma escola pública de Campinas.
Coube à UNICAMP capacitar os professores e coordenar o projeto que tinha por objetivo a elaboração de um currículo mais regionalizado.
Como foi dito na vídeo-aula, é uma maneira diferente de ensinar e aprender e os professores de química, geografia e língua portuguesa utilizaram a interdisciplinaridade e a transversalidade.

O Prof.Nilson Machado explicou que na interdisciplinaridade as disciplinas não mudam seus objetos, mas há relações mais fortes entre elas. E comentou:  a água, a energia não são propriedades de nenhuma disciplina. E a realidade não é disciplinar.

E acrescentou: “Na organização curricular a transversalidade foi a reação à fragmentação disciplinar. Especialmente para abranger temas que atravessam transversalmente todas as disciplinas, como no caso do tema valores,e no projeto Ribeirão Anhumas os temas: cooperação, cidadania, saúde, meio ambiente."

E que a interdisciplinaridade, a inter relação entre as disciplinas, é condição, possibilidade para se criar a transversalidade que visa objetos, objetivos maiores do que os da minha disciplina.
O conhecimento absolutamente disciplinar é para especialistas. Para o cidadão matemática é um meio e não fim , fim é para especialista.

A interdisciplinaridade e a transversalidade são partes de um movimento que aparece em contraposição a um jeito de organizar o pensamento que surgiu no século XVII , e um dos primeiros formuladores foi Rene Descartes através do seu livro “Discurso do Método” de 1637.

Quem se opõe a essa fragmentação é Edgar Morin que diz que é um paradigma que impede o conhecimento complexo, o conhecimento da era planetária. E que ensina a separar disciplinas; separar homem-natureza; separar tudo. Não ensina a religar. Reformar o pensamento é religar para enfrentar os desafios que são globais e multidimensionais.

O Prof°Pablo Ruben Mariconda disse que é preciso juntar outros métodos contextualizadores e métodos de abordagens alternativas para ter uma visão mais unitária e não só ficar nas especialidades e não vendo efeito.

“Até o tempo de Descartes havia uma tendência de se ligar o corpo ao espírito. Corpo, cérebro e espírito faziam parte de um todo. Isso vinha desde a Grécia antiga e continua até a Renascença. Muito particularmente depois de Descartes, essa visão é quebrada com o advento do dualismo cartesiano. Aí há uma completa separação entre mente de um lado e corpo de outro. Isso teve enorme influência. Quando falo de Descartes, não o estou acusando. No fundo, quem deve ser acusado é quem tem seguido Descartes até agora."
     Antonio Damásio, chefe do Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa e professor do Instituto Salk, da Califórnia,  autor do livro “Erro de Descartes”, entrevistado pelo jornal do Brasil –(citação do livro: “Ética, Valores Humanos e Transformação)

                                                  Márcia Maria dos Santos Solha
                                                            Setembro/2010
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário