domingo, 26 de setembro de 2010

Vídeo-aula 5: O conceito de Transversalidade


Vídeo aula 5: O conceito de transversalidade


 Há um tempo...


 “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas...

 Que já tem a forma do nosso corpo...

 E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares...

 É o tempo da travessia...

 E se não ousarmos fazê-la...

 Teremos ficado...para sempre...

 À margem de nós mesmos...”

                Fernando Pessoa

A vídeo-aula do Prof. Ulisses me reportou à essa poesia de Fernando Pessoa e aos livros “A Quinta Disciplina” de Peter Senge e “A Conspiração Aquariana” de Marilyn Ferguson nos quais identifiquei alguns trechos e transcrevi para o meu trabalho, pois retratam muito bem o cerne da questão apresentada. Eis os trechos:

“Aprendemos, desde muito cedo, a desmembrar os problemas, a fragmentar o mundo. Aparentemente, isso torna tarefas e assuntos complexos mais administráveis, mas em troca, pagamos um preço oculto muito alto. Não conseguimos mais perceber as conseqüências das nossas ações; perdemos a noção intrínseca de conexão com o todo. Quando queremos divisar “o quadro geral”, tentamos montar os fragmentos em nossa mente, listar e organizar todas as peças. Mas, como diz o físico David Bohm, a tarefa é inglória – é como tentar montar os fragmentos de um espelho quebrado para enxergar um reflexo verdadeiro. Depois de algum tempo, acabamos desistindo de ver o todo.”                                                        “A Quinta Disciplina”  Peter M. Senge

“Nós vivemos o que sabemos. Se acreditarmos que o universo e que nós mesmos somos mecânicos, viveremos mecanicamente. Por outro lado, se soubermos que somos parte de um universo aberto e nossas mentes são uma matriz da realidade, viveremos de modo mais criativo e vigoroso.
 Se imaginarmos que somos seres isolados, uns tantos tubos interiores flutuando em um mar de indiferença, viveremos vidas diferentes do que se conhecêssemos um universo de inquebrantável integridade. Acreditando em mundo de fixidex, lutaremos contra a mudança; acreditando em um mundo de fluidez, cooperaremos com ela.

...Porque não compreendíamos a capacidade do cérebro  para transformar a dor e o desequilíbrio, nós o embotamos com tranqüilizantes ou o distraímos com o que estivesse ao nosso alcance.

Porque não entendíamos que o todo é maior do que o somatório de suas partes, reunimos nossas informações em ilhas, um arquipélago de informações desconexas. Nossas grandes instituições virtualmente evoluíram isoladas umas das outras.

Não percebendo que nossa espécie evoluiu em cooperação, optamos pela competição no trabalho, na escola, em nossos relacionamentos.

Não compreendendo a capacidade do corpo em reorganizar seus processos internos, receitamos e nos medicamos a nós mesmos levando-nos a bizarros efeitos colaterais.

Não entendendo nossas sociedades como grandes organismos, nós as manipulamos para “curas” piores do que as doenças.

Mais cedo ou mais tarde, se a sociedade humana quiser evoluir – na verdade, se quiser sobreviver – devemos orientar nossas vidas de acordo com os novos conhecimentos. Durante tempo demasiado as duas culturas – as humanidades, sentimentais e estéticas, e a ciência, fria, analítica –  funcionaram independentes, como o cérebro direito e o cérebro esquerdo em um paciente de cérebro dividido. Nós temos sido vítimas de nossa consciência coletiva dividida”.                 "Conspiração Aquariana”   Marilyn Ferguson

Na vídeo-aula 5 o Prof. Ulisses enfatiza  a necessidade da busca por novos sentidos para a educação e a ciência e traz uma constatação de suma importância:

“Os avanços paradigmáticos da ciência podem não ser suficientes para se construir a democracia, a justiça e o bem estar social”.
 E indaga: “A quem os avanços da ciência continuam atendendo ?

 “A ciência, a escola está a serviço de quem, de que parcela da população ? ”

Daí conclui que a ciência necessita objetivar os 90% da população que até o momento não tem tido acesso a esses avanços científicos.

Da mesma forma a escola necessita repensar seu modelo e sua prática para atender efetivamente e com qualidade, a todos.

Porém uma das questões fundamentais para que isso aconteça é a escola, instituição que  a sociedade elegeu e delegou a educação dos seus cidadãos além da família,  cumpra, faça acontecer os seus objetivos, que estão presentes no Projeto Político Pedagógico. E quais são ?

Objetivos da Educação: Instrução: Conteúdos definidos por cada cultura/sociedade

                                    Formação ética e moral : Cidadania; formar novos cidadãos

O que tem ocorrido é que por um bom tempo a família se incumbiu com a formação ética e moral e a escola com a instrução. 

Hoje a formação ética e moral ficou relegada  a 2°plano e passada para a escola, que não tem dado conta, pelo seu modelo e sua prática, de corresponder a esses dois itens e da qualidade.

Um aspecto fundamental para que essa formação ética-moral aconteça e chegue às futuras gerações é abordar temas de relevância presentes no dia a dia  e trabalhá-los dentro do conceito de transversalidade, superando a disciplinarização. E o Prof.Ulisses argumenta: “Grande impasse que temos hoje no dia a dia das escolas e na organização dos currículos: vários conteúdos são importantes para a formação das futuras gerações , mas continua-se preso a um modelo disciplinar de especialização do nosso conhecimento”

A idéia de transversalidade rompe essa visão e aponta o caminho, desde que aplicada dentro do seu conceito:

Conceito de Transversalidade na Educação:

-Temáticas que atravessam, que perpassam os diferentes campos do conhecimento.

-Temáticas ético-político-sociais atreladas à melhoria da sociedade e da humanidade (Educação em Valores; dar respostas aos problemas que a sociedade vê como relevante (ex.drogas); conectar a escola à vida das pessoas (ex.saúde, sentimentos e afetos); incorporar novos temas e problemas sociais (ex.questão ambiental) ).

Um outro conceito que amarra a transversalidade é reconsiderar o papel da ciência e da escola e possibilitar que beneficie os 90% que ainda são excluídos em sua maioria.

Portanto, através da transversalidade, dentro desse conceito apresentado, o Prof.Ulisses enfatizou,: “muda a cara da escola. Muda o foco e o objetivo da escola.

E esse processo é de responsabilidade  dos profissionais da escola que precisam:

Abandonar as roupas usadas... como disse Fernando Pessoa.

Desaprender a fragmentação e reaprender a ver o todo... como nos fez refletir Peter Senge.

E viver esse novo aprendizado e por isso evoluir e sobreviver como sociedade humana... segundo Marilyn Ferguson.



                                                                         Márcia Maria dos Santos Solha
                                                                                                  Setembro/2010

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